Marrocos não foi dos nossos primeiros destinos de viagem, apesar de ter estado “quase para ser” uma data de vezes. Até que um dia foi, e depois mais que uma vez!
Marrocos é aquele destino perfeito, não só porque está perto e não obriga a esperar pelas férias grandes, mas porque é bom de visitar em qualquer altura do ano! E, claro, é atravessar para um outro Continente aqui tão perto onde, de imediato, tudo é diferente!
Adorámos todas as cidades pelas quais já passámos em Marrocos, e temos um fascínio quase esquisito por Marrakech, mas a ida até ao deserto vai ficar guardada como aquela especial entre as especiais. Talvez porque era um sonho antigo dormir debaixo das estrelas, ver um por do sol vermelho a queimar dunas e acordar num isolamento que só a distância da água permite.
Partimos da cidade de Zagora no vale de Draa num 4×4 e com um condutor que só sabia falar francês e bater palmas (já lá iremos!)
Foi em M’hamid, a cidade à porta do deserto, que nos despedimos da civilização (que é como quem diz, comprámos água e bananas!) A partir daí, acabou-se o alcatrão e qualquer vestígio de vida real!
A viagem foi a aventura como a imaginávamos, galgando dunas e acelerando por quilómetros de rios agora secos. Quando, finalmente, olhando para qualquer direcção, já não víamos mais nada que não areia era altura de acreditar: estávamos em pleno deserto do Sahara! Primeiro sobre dunas tímidas, depois montes mais atrevidos e finalmente ondas e ondas de um interminável tapete de areia dourada. De vez em quando surgia um brinde na paisagem amarela, ao cruzarmos caminho com dromedários, famílias inteiras deles! (sim dromedários de uma bossa, ao que parece não há camelos em Marrocos!)
Era tudo o que tínhamos imaginado! Até que o sol se começa a pôr e a cor do cenário transcende todas as nossas expectativas!
Quando já não há barulho que se consiga fazer ouvir, avistamos entre dunas o que parece ser um acampamento. Não parece, é mesmo! Chegámos às Dunas de Chegaga e era mesmo ali que íamos ficar naquela noite! No acampamento há mais umas quantas tendas, mas para nos fazer companhia só um turista japonês (que por coincidência já tínhamos conhecido em Ouarzazate), o seu guia\condutor e os berberes, donos dos camelos que nos haviam de levar mais além das primeiras dunas, àquelas onde 4 rodas, mesmo com toda a tracção do mundo, já não chegam.
Seguiu-se um jantar que não foi à média luz, foi um bocadinho menos que isso. Afinal, deserto é deserto! A falta de luz esperava-se e foi, na verdade, indispensável para conseguirmos ver o céu mais estrelado de sempre.
O silêncio só foi retomado depois de um serão animado à volta da fogueira, onde um guia cantava e tocava viola, outros usavam um qualquer barril como jambé e o nosso condutor batia palmas efusivamente e sem ritmo, alucinado como um miúdo que pisa o deserto uma primeira vez! 🙂
Foi dormir, a parte mais complicada da experiência. Não só pelo dia incrível que vivemos mas porque as marcas de patas esquisitas na areia e a pseudo-porta da tenda não nos davam grande confiança para fechar os olhos. 😛 Mas fomos compensados com um amanhecer lindo no deserto!
Viemos com tanta certeza que era aventura para repetir que, pouco tempo depois, o João comprou um jipe Defender que há de um dia seguir pelas mesmas dunas, que é como quem diz “há de rolar, algures pelo deserto do Sahara”. Inshallah!